quinta-feira, 2 de julho de 2009

Dance, senão estamos todos perdidos.


Pina Bausch morre aos 68
O mundo da dança está de luto. E a razão para tanto desalento não podia ser mais triste: Pina Bausch, um dos maiores nomes da dança moderna e contemporânea, morreu ontem, aos 68 anos. A coreógrafa alemã, que revolucionou de maneira contundente a forma de dançar ainda nos anos 70, foi recentemente diagnosticada com câncer, segundo comunicado do Tanztheater Wuppertal, companhia criada por ela e com a qual criou a maior parte de seu legado.
Ursula Popp, porta-voz do grupo, afirmou que Pina teve "uma morte repentina e rápida, cinco dias após receber o diagnóstico de um câncer", e que ela foi internada no hospital para fazer exames, devido a um estado de fadiga intensa, e "não saiu de lá."

Pina Bausch havia estreado na última sexta-feira seu novo espetáculo com título provisório de "Uma Peça de Pina Bausch 2009". Aclamada com longos e entusiasmados aplausos por parte do público, a peça foi apresentada no recém-reformado teatro de Wuppertal. Mal sabia o público que ali se despediria de uma revolucionária do mundo da dança.

A coreógrafa alemã dissolveu os limites entre teatro e dança e é, sem dúvida, uma das mais importantes e influentes personalidades da artes cênicas no século XX. Ela completaria 69 anos no próximo dia 27 e viria ao Brasil para uma temporada de "Café Muller" e "A Sagração da Primavera", duas de suas obras-primas, em setembro, pela Temporada de Dança 2009 do Teatro Alfa, em São Paulo.
O triste acaso é que as vendas de ingressos para a turnê brasileira começaram exatamente ontem. Em comunicado oficial, o Teatro Alfa afirma que as apresentações estão mantidas, pelo menos até segunda ordem - ou seja, um posicionamento contrário da própria companhia.
Trajetória
Pina Bausch nasceu em Solingen, na Alemanha, em 27 de julho de 1940. Estudou na mais importante escola moderna de seu país, a Folkwang, em Essen, dirigida por Kurt Jooss, onde recebeu e transformou a herança dos mestres do expressionismo, como Laban, em uma linguagem peculiar.
Estudou também na conceituada escola de dança norte-americana Juilliard, mas logo alçou voo autoral. "Ela não é apenas uma grande coreógrafa, mas também uma encenadora", opina Iracity Cardoso, diretora da São Paulo Cia. de Dança. "Uma artista que tratou temas tão importantes de uma maneira ácida e realista num certo momento e, agora, nesse início do século XXI, começou a ficar um pouco mais romântica, poética e, com muito senso de humor, mostrou-se, cada vez mais, apaixonada pela vida", afirma Iracity.

Ex-crítica de dança, bailarina e atual diretora artística da São Paulo Cia. de Dança, Inês Bogéa ressalta a colaboração de Pina para a revolução na forma de dançar, criando, ao mesmo tempo, sua marca registrada. "Os espetáculos dela são criados com perguntas descritivas e abstratas, respondidas pelo corpo, entendendo a palavra como movimento e o gesto como palavra. É uma grande artista que entende profundamente a dramaturgia do espetáculo, trabalha com a repetição e a colagem, criando sentidos que estão para além do que se vê, e nos impacta coma sensação do inusitado e do conhecido." Para Inês, "ela está para a dança como Fellini para o cinema, Shakespeare para o teatro, Van Gogh para a pintura".

Rodrigo Pederneiras, coreógrafo do Grupo Corpo, afirma que Pina Bausch promoveu uma reviravolta absoluta no mundo da dança. "Sem exageros, existe o antes e o depois de Pina", opina Rodrigo, ressaltando que a ‘explosão’ de Pina (com "Café Muller", em 1978) é praticamente contemporânea da criação do Corpo, em 1975. "Pina conseguia com economia de gestos dizer o máximo. Faz valer a frase ‘menos é mais’", avalia o coreógrafo.

Nos últimos anos, Pina Bausch e sua companhia se dedicaram a visitar cidades pelo mundo e, a partir das impressões e sensações vivenciadas nesses espaços, criar seus espetáculos. A coreógrafa esteve no Brasil com essa missão, em 2000, quando criou "Água", espetáculo que estreou em 2001. "Ela virou uma cidadã do mundo, visitando as cidades e recriando em cena as emoções que sentia como testemunha da vida de cada um desses lugares", afirma Inês Bogéa. "Pina queria que o movimento nascesse da intensidade, da individualidade", afirma o jornalista e professor Fabio Cypriano, que lançou, em 2005, um livro sobre a coreógrafa ("Pina Bausch", CosacNaify, 176 páginas), após quase dez anos de convívio com a coreógrafa. Ele diz que uma frase sintetiza o pensamento de dança que guiava a criadora: "Eu não investigo como as pessoas se movem, mas o que as move".
Alguns espetáculos
"Fritz"(1974)
"Ifigênia em Tauris" (1974)
"Sacre" (1974)
"Orfeu e Eurídice" (1974)
"A Sagração da Primavera" (1975)
"Os Sete Pecados Capitais" (1976)
"Vem, Dança Comigo" (1977)
"Cafe Müller" (1978)
"Bandoneon" (1980)
"Masurca Fogo" (1998)
"Wiesenland"(2000)
"Água"(2001)
"Nefés"(2003)
"Rough Cut" (2005)

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